Passatempos:

O Clube Dumas - Arturo Pérez-Reverte [Opinião da Vencedora]*


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O Clube Dumas
Uma das obras emblemáticas de um dos mais reputados escritores da actualidade.
de Arturo Pérez-Reverte    

Edição/reimpressão: 2011
Editor: Edições Asa
Páginas: 416
ISBN: 9789892312842

Sinopse Pode um livro ser alvo de investigação policial como se de um crime se tratasse? Podem as suas páginas ser encaradas como pistas para um mistério com três séculos?
Lucas Corso, especialista em descobrir edições raras, está a tentar responder a este enigma quando é incumbido de uma dupla missão: autenticar um manuscrito de Os Três Mosqueteiros e decifrar o mistério de um livro queimado em 1667 e que, afirma a lenda, foi co-escrito por Satanás.
Dos arquivos do Santo Ofício às poeirentas estantes dos alfarrabistas e às mais selectas bibliotecas internacionais, Corso é atraído para uma teia de rituais satânicos, práticas ocultas e duelos com um elenco de personagens estranhamente semelhante ao da obra-prima de Alexandre Dumas. Auxiliado por uma beldade misteriosa com o nome de uma heroína de Arthur Conan Doyle, este «caçador de livros» parte de Madrid rumo a Paris, passando por Sintra, em perseguição de um sinistro e aparentemente omnisciente assassino.
Parte mistério, parte puzzle, parte jogo intertextual, O Clube Dumas é uma das obras emblemáticas de um dos mais reputados escritores da actualidade. Foi adaptado para o cinema sob o título A Nona Porta, realizado por Roman Polanski e protagonizado por Johnny Depp.



Opinião da Vencedora*: 
Arturo Pérez-Reverte enriquece a sua obra com uma escrita difícil de ler, pelas palavras que utiliza, mas também difícil de compreender se o leitor se distrair nem que seja por breves momentos. Confesso que, por vezes, me senti perdida na complexidade das suas palavras, aliada ao grau de exigência imposto pelo enredo, a fim de ter de começar a minha leitura um pouco mais atrás. Exige assim, que seja atenta e cautelosa sob o risco de não se compreender algum episódio que necessite de mais atenção.

Um livro com referência a vários outros livros e bastante rico (até demais) em personagens, sejam elas da realidade (refiro-me ao enredo) ou da ficção (utilização de personagens de Os Três Mosqueteiros, tais como Milady, associada a Liana Taillefer, e Rockefort, o homem da cicatriz, associado a Laszlo Nicolavic).
Sendo o autor, de nacionalidade espanhola, devo também referir a existência de uma citação do livro O mistério da estrada de Sintra de Eça de Queirós, no início do capítulo VII. Aliás, existem citações de vários autores no início de todos os capítulos, tais como, Alexandre Dumas, Agatha Christie e J. Cazotte.

Mas, voltando ao livro.
Esta história é-nos contada por um narrador de seu nome Boris Balkan.
Um suicídio, um manuscrito 'Dumas O Vinho de Anjou', três exemplares do livro As nove portas e duas pessoas assassinadas. No fundo, o enredo desenvolve-se em torno destas peças.
Lucas Corso, procura a autenticidade de um dos exemplares de As nove portas, encadernação de 1666 por Aristide Torchia, a mando do livreiro Varo Borja. Esta procura vai levá-lo aos outros dois exemplares conhecidos.
O segundo encontra-se em Sintra, propriedade do bibliófilo Victor Fargas e o terceiro, em Paris, propriedade da Baronesa Frida Ungern, uma viúva fascinada pelo oculto.
Após o contacto de Corso com os dois proprietários, estes são assassinados e os livros destruídos ou roubados. Não sem antes, Corso poder compará-los e verificar que oito das nove gravuras existentes nos livros, tinham diferenças entre si.
Ao mesmo tempo, Liana Taillefer, viúva de Enrique Taillefer tenta recuperar, sem sucesso, o manuscrito 'Dumas', antiga propriedade do marido, que o vendeu a La Ponte. Agora também na posse de Lucas Corso.
Mas voltando ao início, Varo Borja queria saber da autenticidade de As nove portas porque acreditava que ele continha a forma para invocar o Diabo. Nisto, confessa a autoria dos assassínios do bibliófilo e da baronesa para que o enigma criado por Torchia (três livros que se completavam e não apenas três exemplares do mesmo livro) não fosse resolvido, roubando assim os exemplares para os reunir e concretizar o desejo de invocar o Diabo num ritual, o qual, Lucas Corso, presenciou, aquando da sua visita a Borja, a fim de receber o pagamento pelo seu trabalho.
No entanto, o exemplar não era autêntico, mas sim uma cópia dos irmãos Pablo e Pedro Ceniza, encadernadores e capazes de falsificar livros. Nisto, o ritual não se consumou.

Aconselho este livro, não para leitura de férias, por ser demasiado pesado e exigir muito do leitor, mas sim, para uma leitura descontraída ao fim da tarde, após um dia de trabalho, se possível, junto a uma janela envidraçada de um quinto andar, ao mesmo tempo que os automóveis desenvolvem as suas corridas desenfreadas lá em baixo, em plena hora de ponta.


Para finalizar, não posso deixar de incluir aqui algumas frases do livro, das quais gostei:

''A vida como um jogo. E os livros como espelho da vida''. 174 p.

''Um dia partirei sem nunca te ter conhecido. Recordarás então os meus olhos grandes, escuros; as minhas censuras silenciosas; os meus gemidos de angústia durante o sono; os meus pesadelos que és incapaz de esconjurar. Recordarás tudo isso quando eu tiver partido.'' 200 p.

''Um leitor é aquilo que leu antes, mais o cinema e a televisão que viu. À informação fornecida pelo autor acrescentará sempre a sua própria informação.'' 377 p.

''Há castelos que devem arder e homens que é preciso enforcar; cães destinados a despedaçarem-se entre si, virtudes a serem decapitadas, portas que se têm de abrir para que outros passem por elas.'' 387 p.


*Susana Ferreira
(Vencedora do Passatempo)

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