Passatempos:

Amigos Influentes - Donna Leon [Opinião]


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Amigos Influentes

de Donna Leon   

Edição/reimpressão: Março de 2006
Editor: Editorial Presença
Páginas: 220
ISBN: 972-23-3530-8
Colecção:  O Fio da Navalha, n.º 85

SinopseEste é o nono romance da série policial protagonizada pelo Commissario Brunetti, que a Presença tem vindo a publicar nesta colecção. Brunetti é visitado em sua casa por um jovem burocrata que vem pôr em questão a existência legal da casa onde há tantos anos vive com Paola e os dois filhos. Como qualquer veneziano, mesmo sendo polícia, Brunetti pensa em recorrer à influência de pessoas bem colocadas que o possam ajudar... O tempo decorre e Brunetti vai esquecendo o assunto, quando recebe um telefonema do mesmo homem, que pretende encontrar-se com ele para lhe comunicar uma informação que claramente o aterroriza. Entretanto, o jovem aparece morto em consequência de um plausível acidente, mas o Commissario sabe que algo de muito grave se está a passar. Obra vencedora do Crime Writers’ Association Macallan Silver Dagger para ficção.



Ponto de Vista: Depois de ter tido a primeira experiência com Donna Leon em Pedras Ensanguentadas, em que fiquei um pouco desiludida com a história, achei que deveria dar mais uma oportunidade à autora.

Em Amigos Influentes não podíamos deixar de encontrar, como em todas as histórias de Donna Leon, o comissário Guido Brunetti e a sua família num enredo de amizades, influências e corrupção, onde o desespero pode levar aos actos mais irracionais pondo em causa tudo o que se conseguiu conquistar durante uma vida.

“A realidade estava lá, maleável e obediente: uma pessoa só tinha de puxá-la para cá, empurrar um bocadinho para acolá, e dar-lhe a forma de qualquer imagem possível. Ou, se a realidade fosse insubmissa, bastava apontar os canhões do poder e do dinheiro e abrir fogo. Tão simples, tão fácil.”

Veneza está longe de ser uma cidade exemplar, e nem mesmo Brunetti está livre de ilegalidades. Ao receber a visita de Franco Rossi, um funcionário da Ufficio Catasto, Brunetti fica a saber que provavelmente a sua casa de tantos anos foi construída ilegalmente, e na ausência de documentação a comprovar o contrário corre o risco de ser demolida por se encontrar num prédio histórico, algo que Brunetti terá evitar a todo o custo.
Entretanto, o tempo vai passando, e só quando Brunetti volta a ser contactado por Rossi, se recorda do que os levou a conhecer-se, mas desta vez Rossi pretende apenas revelar algo ao comissário, o que acaba por não acontecer, pois ao fim de alguns dias Brunetti descobre que Rossi faleceu de uma estranha queda num prédio devoluto.
A partir daqui, Brunetti, num misto de curiosidade e desconfiança, dá início a uma investigação que está muito para além desta morte aparentemente acidental. Como num puzzle, a pouco e pouco, quase todas as peças se vão encaixando, e Brunetti percebe que à vista de todos se gere um negócio bastante lucrativo para alguns, onde os agiotas e o tráfico de droga imperam, e sem que nada se faça para alterar isso…

“Estava a fazer a pergunta e já a sentir o peso da absurdeza de tudo aquilo: como se provava a existência da realidade?”

Mas se em Pedras Ensanguentadas não senti grande empatia por Brunetti, pois pareceu-me um pouco vazio de personalidade, neste livro Brunetti acabou por se revelar numa pessoa mais madura e sensitiva, ultrapassando a sua postura normalmente fechada e pouco sensível, destacando o seu sentido de justiça como o caminho certo a percorrer, e que vê na família o seu ponto de equilíbrio.

“Depois do jantar, ele estendeu-se no sofá, acalentando a esperança de que arranjaria forma de manter a paz familiar e que os terríveis acontecimentos com que os seus dias eram preenchidos jamais lhe cercariam o lar.”

Nesta história, aparte de algumas pontas soltas e um certo desfasamento no desenrolar da história, Donna Leon mostra-nos Veneza, por entre canais e ruas, apelando o leitor para temas actuais, que na maioria das vezes são notícia em qualquer jornal, e que por isso, talvez, acabem por se tornar para nós indiferentes, só que é extremamente importante não os esquecer pois se ambicionamos uma sociedade onde impere a justiça e os valores precisamos perceber que situações como as que são apresentadas nesta história têm de deixar de ser uma realidade e passem a sê-lo apenas ficção.

Amigos Influentes é, por isso, um romance policial que satisfaz quem procure uma leitura ligeira que leve a ponderar nos caminhos que todos nós temos de tomar um dia e nas escolhas que fazemos para ultrapassar o que vai surgindo no nosso trajecto.


Em estrelas: -4¸.•☆



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